Um dia volta pra você também BRASILEIRO e/ou BRASILEIRA e vai faltar cadeia


Sem casa, pedindo comida, e de
bicicleta em busca de trabalho

Casal conta suas experiências como desabrigado no Japão em meio à crise

Para o casal, o panorama do país é sombrio:
“Pelo tanto de desempregados que há, vai faltar cadeia”


(Texto e Foto: Osny Arashiro/ipcdigital.com)
São mais de 400 quilômetros de estrada e história reunidas na bagagem pessoal do casal F., 22,  E., 26. Seria mais uma aventura de andarilhos de bicicleta, não fosse a condição de desempregados e desabrigados que enfrentam, vítimas da atual crise econômica.
O casal morava em Toyoda, perto de Iwata (Shizuoka), quando perdeu o emprego, ainda no verão, e teve de desocupar o apartamento da empreiteira. Vagando pelas ruas, obteve ajuda de uma funcionária de outra empreiteira, que indicou o casal para trabalhar na província de Hyogo. Mas o novo trabalho, numa fábrica de marmitas, durou apenas um mês. No final de outubro, eles foram cortados e voltaram à vida de desabrigados. “A empreiteira não soltava vale e, em casa, não tinha nem arroz para comer. A gente pedia o que sobrava no bentoya e, pelo menos, não passamos fome”, reconhece F.
Com as portas fechadas em Hyogo, eles foram tentar a sorte em Nagóia (Aichi). Para enfrentar a estrada, usaram o único meio de transporte de que dispunham: duas bicicletas. “Levamos dois dias de viagem, mas, em Nagóia as empreiteiras diziam que era preciso ter moradia própria ou carro”, lamentam.
No início da empreitada, eles dormiam ao relento, em praças e estações de trem, com caixas de papelão. Mas o frio apertou e o casal se viu obrigado a se abrigar em banheiros públicos. “Achamos um futon (acolchoado), que deixávamos no telhado dos banheiros”, conta E. “À noite, esperávamos o povo ir embora e, depois das 22h, pegávamos o futon, estendíamos no banheiro e trancávamos a porta. De manhã, acordávamos cedinho, antes que começasse a aparecer gente, e saíamos para pedir comida”.
Medo da violência
Mas o sono nessa situação jamais é tranqüilo. “Em Nagóia, estávamos perto da estação e presenciamos o esfaqueamento de um desabrigado que pernoitava no mesmo local”, conta F. Com o medo da violência, resolveram pegar a estrada de novo e, há duas semanas, o casal rumou para Hamamatsu (Shizuoka), onde vive hoje. Na cidade, ficaram sabendo da distribuição de sopa feita pelo Grupo Esperança e engrossaram a fila. Desde então, receberam abrigo na casa de um senhor brasileiro.
No momento, eles já não acreditam na recuperação da economia japonesa e, por isso, querem recomeçar a vida no Brasil. “Aqui, mesmo entre os brasileiros, existe muita desunião. A gente pedia ajuda nas ruas e diziam ‘vai trabalhar, vagabundo’”, conta F.
Com tantas dificuldades, a vida com trabalho fixo parece uma lembrança distante. “Enquanto a gente tinha um bom emprego, sempre deu para viver bem e nunca faltou nada em casa”, afirma E., que diz não guardar mágoas da experiência. “Essa vida está sendo um aprendizado, uma experiência a mais. Tem casais que se separam quando o dinheiro acaba, mas nós continuamos lutando juntos”, resume.
Para F., o panorama no país é sombrio. “Na hora em que a fome apertar e ninguém ajudar mais ninguém, os revoltados vão se unir e começar a invadir, saquear, roubar e, pelo tanto de desempregados e desabrigados que há, vai faltar cadeia”, prevê.

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